terça-feira, 13 de julho de 2010

Livro Mestre Bobby

O preconceito ainda existe?
O livro de Metre Bobby discuti todo o contexto em que se deu a capoeira, para que venha a discussão sobre o preconceito.
Ele nos mostra a realidade social da capoeira brasileira, incluindo o modo em que abordado o tema com crianças em escolas públicas.
De qualidade superior, nos envolve estigando cada vez mais sua leitura.

Graduação do Raizes do Brasil

Nossas fotos


Vivência de capoeira na PUC-Campinas 



Vivência de maculelê na PUC-Campinas








Treino na Unicamp, Campinas-SP

Curiosidades sobre a história e trajetória da capoeira

A história da capoeira.


A história da capoeira se mescla com a própria história do nosso país. Desde o processo colonizador até a independência e a república, passando por guerras e perseguições, a capoeira esteve sempre presente no curso de nosso povo.



Colônia.



No período colonial a capoeira era duramente combatida pelos senhores de engenho, daí o disfarce dela como uma dança. Muitas vezes a penalidade por sua prática era o tronco.

Durante as invasões holandesas no Nordeste, a atenção dos senhores de engenho se voltou contra um inimigo maior: os invasores. Aproveitando-se dessa falta de atenção, centenas de escravos fugiam continuamente das fazendas, formando comunidades próprias: os Quilombos. Com a expulsão dos holandeses, passou-se a perseguir os negros fugitivos na tentativa de se retomar a economia, fortemente abalada por todo esse processo de abandono das fazendas. Os negros procuravam desesperadamente uma ocupação, principalmente no Rio de Janeiro, Capital do Império. Muitos foram recrutados pelo exército e combateram bravamente na guerra do Paraguai no chamado "Batalhão dos Zuavos". Novamente a capoeira se mostrava muito útil.

Entre um serviço e outro eles se reuniam na esquina e jogavam Capoeira para se distraírem e ocuparem o tempo, aproveitando para reclamar de sua condição social através das músicas.



Capoeira regional.



A Capoeira Regional, criada pelo mestre Bimba, é uma mistura de Capoeira Angola com Batuque. Esta última era uma luta africana na qual o seu pai, Luiz Cândido Machado, era campeão.

Mestre Bimba não formava mestres. Para um indivíduo ter a graduação mais alta(titulação de Graduação dos Formandos Especializados) dada por mestre Bimba, era preciso passar pelos seguintes estágios: Exame de Admissão à Academia, Batizado, Formatura e o Curso de Especialização.



Exame de admissão à academia.



O mestre Bimba contava que não queria vadios, malandros, vagabundos em sua academia. Para ele essas pessoas causaram muitos danos para a imagem da capoeira. Para que a matrícula fosse realizada o pretendente tinha que ser trabalhador ou estudante e ser aprovado no exame por ele realizado. Dizia que em outros tempos aplicava uma "gravata" no pescoço do indivíduo e dizia: "agüenta aí sem chiar", se agüentasse estava matriculado, caso contrário ia aprender em outro lugar. O mestre dizia que perdeu muitos alunos e dinheiro com isso, porém justificava que em sua academia só queria machos.Mais tarde mudou o exame, agora o aluno tinha que fazer a "ponte" auxiliado por ele, que deixava as mãos do calouro tocar ao chão e mandava que ele agüentasse um pouco: "mostra-me tua junta que te direi quem és, pois junta de mais ou de menos atrapalha". Depois "queda de rins" para o lado esquerdo e para o direito, no centro uma pequena parada tocando os calcanhares, apoiado apenas nas mãos. Feito isso ele dizia se o pretendente podia se matricular ou não.

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O batizado.



O Batizado consistia em colocar em cada calouro um apelido pelo qual ele seria agora reconhecido dentro da academia e nos meios capoerísticos. Este apelido era o seu "Nome de Guerra": O tipo físico, o bairro onde morava, a profissão, o modo de se vestir, atitudes, um dom artístico qualquer, serviam de subsídios para o apelido. O apelido como dizia o mestre, também servia como disfarce para os capoeiristas antigos, pois assim a polícia não podia identificá-los pelo verdadeiro nome.

Batizar o aluno, na academia do mestre, era colocar o mesmo para jogar pela primeira vez com o acompanhamento do berimbau, já que o treinamento da seqüência era feito sem o acompanhamento de qualquer instrumento. O mestre escolhia o formado e tocava "São Bento Grande", que é o que caracteriza a Regional, o formado só acompanhava o calouro e o "forçava" a aplicar as defesas e "soltar" os golpes aprendidos. Ao final do jogo o mestre colocava o calouro no centro da roda e pedia que um formado lhe desse um apelido, ou ele mesmo dava. Depois de escolhido o nome todos batiam palmas e o mestre dizia: "A Benção do Padrinho" o calouro ao estender a mão para o formado que o batizou, recebia uma "Benção", golpe aplicado com o pé, que o jogava no chão. Porém este expediente era uma gozação e não era obrigatório, existiam calouros espertos que evitavam "tomar" a Benção e ficava por isso mesmo.

Este batizado é uma criação do mestre Bimba, dentro de sua academia, nunca existiu isso antes, no passado. Era uma característica da Regional que depois que já tinha um bom número de alunos batizados, fazia a "Festa do Calouro", a "Festa do Batizado".

Formatura.



Para formar-se em Capoeira Regional o aluno cursava nunca menos que seis meses: Bimba achava que com seis meses, um aluno considerado normal, com três aulas por semana estaria pronto para se formar. O exame para a formatura era feito em quatro domingos seguidos, no Nordeste de Amaralina, academia do mestre. Os alunos a serem examinados eram escolhidos por ele. Durante estes quatro dias, os alunos tinham que fazer tudo aquilo que ele pedisse em termos de Capoeira. Em outros tempos, contava ele, um dos requisitos exigidos durante o exame era derrubar com uma "Benção" um tronco de Jaqueira bastante pesado e de base circular, o qual o mestre derrubava demonstrando a seus alunos como fazê-lo, e comentava rindo: "Os meninos ficavam a manhã inteira tentando derrubar o tronco, alguns terminavam com os pés bastante inchados". No último domingo, o dia da escolha, o nervosismo era geral. Ao final do treino, Bimba dizia os nomes daqueles que tinham sido aprovados. Marcava o dia para lhes ensinar 23 novos golpes e também o dia da Formatura. O mestre não dava satisfações aos reprovados, nem eles pediam.

No dia da formatura o mestre todo vestido de branco, desde as primeiras horas da tarde, com um apito pendurado no pescoço, alegre, multando os Formados que chegavam atrasados ou aqueles cujas Madrinhas se atrasavam. A multa correspondia em pagar para os Formados antigos, uma ou mais cervejas ou "Mulher Barbada", uma bebida preparada por mestre Bimba, o único conhecedor da fórmula, a depender da falta cometida. As formaturas tinham Paraninfo e Orador. Ao orador, que era um Formado mais antigo e escolhido pelos Formandos, cabia falar um breve histórico da Capoeira Regional e do mestre, colocando os presentes a par das coisas relacionadas com a luta e o ritual de formatura. Quando o Orador terminava, o mestre chamava o



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Paraninfo e lhe entregava as medalhas(Diploma) e os lenços azuis(graduação dos Formados) às Madrinhas. O Formando não podia tocar na medalha nem no lençodurante a Formatura, pois se assim o fizessem seria automaticamente multado. O Paraninfo colocava a medalha no peito esquerdo de cada Formando e as Madrinhas colocavam os lenços no pescoço de cada um. Este lenço era a maneira do mestre homenagear os capoeiristas do passado que utilizavam um lenço de esguião de seda no pescoço para evitar o corte da navalha do inimigo, desferido sempre na carótida. Segundo Bimba, a navalha não corta seda. Os formandos se vestiam todo de branco, usando basqueteira, atendiam o chamado de Bimba que solicitava a demonstração de golpes, seqüência, cintura desprezada, jogo de esquete(jogo combinado), em seguida a prova de fogo , o jogo com os formandos, também chamado de "Tira medalha", um verdadeiro desafio, onde os alunos formados antigos tentavam tirar a medalha dos formandos com o pé, e assim manchar a dignidade e roupa impecavelmente branca. O aluno jogava com todos os seus recursos, enfrentando um capoeirista malicioso e técnico até o momento que o Mestre apitasse para encerrar o jogo. Dando continuidade ao ritual de formatura acontecia as apresentações de maculelê, samba de roda, samba duro e candomblé. A festa era realizada no Sítio Caruano, no Nordeste de Amaralina, na presença dos convidados e de toda a academia.



Curso de especialização.



Era um curso secreto onde só poderia participar os alunos formados por Mestre Bimba. Tinha como objetivo o aprimoramento da Capoeira , com uma ênfase para os ensinamentos de defesa e contra-ataque de golpes vindos de um adversário portando armas como navalha, faca, canivete, porrete , facão e até armas de fogo. Sua duração era de 3 meses dividos em 2 módulos, o primeiro com duração de 60 dias e era desenvolvido dentro da academia através de uma estratégia de ensino muito peculiar do Mestre. O segundo com duração de 30 dias e era realizado na Chapada do Rio Vermelho, tinha como conteúdo as "emboscadas". Ao final do curso o Mestre Bimba fazia uma festa aos moldes da formatura e entregava aos concluintes um "Lenço vermelho" que correspondia a uma titulação de Graduação dos Formandos Especializados.



Capoeira angola



Antes de mestre Bimba criar a Capoeira Regional, a Capoeira Angola era chamada apenas de Capoeira, mas com o surgimento da Regional de Bimba surge o nome Capoeira Angola.O mestre mais famoso e conhecido da Capoeira Angola foi Pastinha. Ele dizia: "Capoeirista não é aquele que sabe movimentar o corpo mas, sim, aquele que deixa o corpo ser movimentado pela alma".Talvez pelo fato da Capoeira Regional ter se expandido amplamente pelo Brasil, principalmente como uma modalidade de luta, passou-se a difundir a idéia de que a Angola não dispunha de recursos para o enfrentamento, afirmando-se ainda que as antigas rodas de capoeira, anteriores a mestre Bimba, não apresentavam situações reais de combate. Porém, os velhos mestres fazem questão de afirmar que estes ocorriam de uma forma diferente da atual, em que os lutadores se valiam mais da agilidade e da malícia - ou da "mandiga", como se diz na capoeira - do que a força propriamente dita.Mestre Pastinha, em seu livro Capoeira Angola, afirma que "sem dúvida, a Capoeira Angola se assemelha a uma graciosa dança onde a 'ginga' maliciosa mostra a extraordinária flexibilidade dos capoeiristas. Mas, Capoeira Angola é antes de tudo, luta e luta violenta"(Pastinha, 1964:28).

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Instrumentos da capoeira angola.



Os instrumentos utilizados na Capoeira Angola são: um agogô, um reco-reco, dois pandeiros, um atabaque e três berimbaus. Estes últimos são: o gunga(ou berra-boi), com uma cabaça grande produz um som grave, fazendo a base e a marcação do toque. O médio, com uma cabaça menor que a do gunga, é responsável pelo ritmo. E o viola, que tem a menor cabaça de todos, dá um som agudo, fazendo o solo e o improviso. Eles equivaleriam, respectivamente, a um trio de contrabaixo, violão e cavaquinho.



Instrumentos.



Berimbau



É difícil precisar a época em que o berimbau passou a ser indispensável à roda de Capoeira. Até o século XIX, jogava-se apenas ao som dos atabaques.

Em publicação de 1834, Jean-Baptiste Debret diz que o berimbau era tocado por ambulantes para atrair a atenção de fregueses. Para o etnomusicólogo Tiago de Oliveira Pinto, o berimbau é um instrumento de origem centro-africana que foi incorporado ao jogo da Capoeira com sucesso, pois outros instrumentos africanos trazidos para o Brasil não tiveram a mesma sorte.

Conta Mestre Pastinha que o berimbau também era usado como arma. Os capoeiras colocavam uma faca na ponta do instrumento e atacavam os policiais que os perseguiam. Nesses momentos, o berimbau transformava-se em foice de mão.

Os berimbaus são de três tipos: "Viola"(agudo), "médio"(solo), "berra-boi"(grave), determinados pelo tamanho da cabaça.No jogo da Capoeira Angola, são utilizados três berimbaus. Os toques característicos desse estilo são os seguintes: São Bento Pequeno, Angola e São Bento Grande.

Na Capoeira Regional de Mestre Bimba, utiliza-se apenas um berimbau. O toque de São Bento Grande(diferente do toque de São Bento Grande de Angola) é o mais característico da Capoeira Regional.Os toques é que ditam o estilo do jogo, o ritmo em que deve ser jogado. Ditam também quem deve jogar. O toque de Iúna, por exemplo, é só para alunos formados (Bimba, em geral, não formava mestres e sim alunos e só estes últimos é que podiam jogar na Iúna) e, segundo relatos, foi criado para homenagear mestres que já morreram.O berimbau mais conhecido e usado atualmente é o berimbau de barriga, que recebe esse nome por ser tocado encostado na barriga, mas existe o berimbau de beiço ou de boca também conhecido como "marimbau" ou "marimba", é um pequeno instrumento de metal arqueado em forma de diapasão sem cabo, que os escravos usavam preso aos dentes, com os quais faziam soar as pontas do metal. O formato de diapasão sem cabo é semelhante a um grampo de cabelo, porém um pouco maior. A caixa de ressonância é a própria boca do tocador.

Atualmente, o berimbau de boca não é mais usado, apesar de alguns mestres antigos, especialmente de Capoeira Angola ainda saberem tocá-lo.

O caxixi.

É uma pequena cesta de palha, com fundo de cabaça, usada como chocalho. Tem de 10 a 15 centímetros de altura, cerca de 6 centímetros de diamêtro na base(essas medidas variam) e um recheio de sementes, pedrinhas ou pequenos búzios.

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A baqueta.

Ou vaqueta é uma vara de madeira com cerca de 40 centímetros de comprimento, sendo fina ou grossa. Alguns capoeiristas passam verniz na baqueta.



A cabaça.

É a caixa de ressonância. Feita com o fruto da cabaceira, árvore rasteira comum no Norte e no Nordeste, pode ser oval(coité) ou pode ser formada por duas partes , quase que arredondadas, interligadas. Depois de seca e cortada, tiram-se as sementes antes de ser lixada.



O arame do berimbau.

Já foi um cipó, um fio de latão, um arame de cerca e mais recentemente, fios de aço retirados de pneus.

O pandeiro

Para alguns estudiosos, o pandeiro é um dos instrumentos africanos trazido para o Brasil. Mas sua origem pode estar entre os hindus, uma vez que o pandeiro é um dos mais antigos instrumentos musicais da "velha Índia".

No Brasil, trazido pelos portugueses, o pandeiro fazia parte da primeira procissão de Corpus Christi, realizada na Bahia, em 13 de junho de 1549.

Depois disso, o negro aproveitou o pandeiro para as suas festas.

O atabaque

Termo de origem árabe, o atabaque já era usado na poética medieval e era um dos instrumentos preferidos dos reis, que o utilizavam em festas e nos conjuntos musicais. O atabaque foi muito difundido na África, mas, segundo Waldeloir do Rego, foi trazido para o Brasil por "mãos portuguesas". Num primeiro momento, o atabaque era usado em festas religiosas. Por algum tempo, foi abolido das rodas de Capoeira. Para Bimba, era uma forma das pessoas não acharem que a Capoeira tinha elementos do candomblé.

É geralmente feito de madeira de lei como o jacarandá, cedro ou mogno cortada em ripas largas e presas umas às outras com arcos de ferro de diferentes diâmetros que, de baixo para cima dão ao instrumento uma forma cônico-cilíndrica, na parte superior, a mais larga, são colocadas "travas" que prendem um pedaço de couro de boi bem curtido e muito bem esticado.



O reco-reco

É um instrumento utilizado na Capoeira Angola. Reco-reco antigamente não é como os de hoje, era feito com o fruto da cabaceira (mesmo da cabaça do berimbau), das que fossem cumpridas, então era serrado, na superfície, fazendo-se vários cortes, não muito profundos, um do lado do outro, onde era esfregado a baqueta, como nos reco-reco dos dias de hoje. Hoje são feitos de gomos de bambu ou de madeira.Instrumento de origem africana composto de um pequeno arco, uma alça de metal com um "cone" metálico em cada uma das pontas, estes "cones" são de tamanhos diferentes, portanto produzindo sons diferentes que também são produzidos com o auxílio de um ferrinho que é batido nos "cones". O agogô é um instrumento utilizado na Capoeira Angola.

Curiosidades sobre a capoeira

Curiosidades da capoeira




Mestre Bimba só aceitava na sua academia alunos que tivessem a carteira de trabalho assinada, fossem estudantes ou tivessem alguma ocupação reconhecida.



"Esquenta Banho" era a senha que mestre Bimba dava a seus alunos para um jogo rápido, apressado. A expressão nasceu após as aulas, quando Bimba obrigava os alunos a tomar banho frio, ligeiro,porque a caixa d,água era pequena.



Os capoeiristas costumavam usar calças boca de sino e no período em que a capoeira ficou proibida por lei, a polícia para detectar os capoeiristas, colocava um limão dentro das calças do indivíduo. Se o limão passasse pela pernas e saísse pela boca das calças, a pessoa era considerada capoeirista.



Mestre Bimba entregava a seus discípulos um lenço azul após a conclusão do curso, um lenço vermelho após a primeira especialização e um lenço amarelo após a segunda especialização.



"Vadiar" significa jogar por prazer, por diversão. Na época da escravidão a vadiação era o lazer dos escravos nas horas de descanso.



Canjiquina foi o criador da Festa de Arromba,jogada em festas do Largo da Bahia. Nessas comemorações vários capoeiristas se reuniam e jogavam em troca de dinheiro e bebida.



"Crocodilagem" é o nome dado a um jogo duro que submete o capoeira a uma situação de inferioridade ou deslealdade.



Em 1824, os escravos que fossem pegos praticando capoeira recebiam trezentas chibatadas e era enviadas para a Ilha das Cobras para realizar trabalhos forçados durante três meses.



Milhares de capoeiristas foram para a Guerra do Paraguai, pois havia sido prometida a liberdade no final do conflito àqueles que participassem da batalha.



"Caxinguelê" é o nome dado a meninos que praticam capoeira

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Antigamente, era de costume os capoeiristas trajarem terno de linho branco. Era considerado um bom jogador aquele que conseguisse sair da roda com o terno impecavelmente limpo.

Curiosidades sobre Mestre Pastinha

                                       Mestre Pastinha


Vicente Ferreira Pastinha 5 de abril de 1889 — 13 de novembro de 1981

Mestre Pastinha, dizia não ter aprendido a Capoeira em escola, mas "com a sorte". Afinal, foi o destino o responsável pela iniciação do pequeno Pastinha no jogo, ainda garoto:

"Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza.Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui. Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (…). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito." Além das técnicas, muito mais lhe foi ensinado por Benedito, o africano seu professor. "

Foi na Capoeira que Pastinha se distinguiu dos demais. Ao longo dos anos, a competência maior foi demonstrada no seu talento como pensador sobre o jogo da Capoeira e na capacidade de comunicar-se. Os conceitos do mestre Pastinha formaram seguidores em todo Brasil. A originalidade do método de ensino, a prática do jogo enquanto expressão artística formaram uma escola que privilegia o trabalho físico e mental para que o talento se expanda em criatividade. Foi o maior propagador da Capoeira Angola, modalidade "tradicional" do esporte no Brasil.

Em 1941, fundou a primeira escola de capoeira legalizada pelo governo baiano, o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho, na Bahia.

Em 1966, integrou a comitiva brasileira ao primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal, e foi um dos destaques do evento. Contra a violência, o Mestre Pastinha transformou a capoeira em arte. Em 1965, publicou o livro Capoeira Angola, em que defendia a natureza desportista e não-violenta do jogo.

Vicente Ferreira Pastinha morreu no ano de 1981. Durante décadas dedicou-se ao ensino da Capoeira. Mesmo completamente cego, não deixava seus discípulos. E continua vivo nos capoeiras, nas rodas, nas cantigas, no jogo. "Tudo o que eu penso da Capoeira, um dia escrevi naquele quadro que está na porta da Academia. Em cima, só estas três palavras: Angola, capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento: Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista."

Curiosidades sobre Mestre Bimba

                                      Mestre Bimba


Manoel dos Reis Machado 23 de novembro de 1900-15 de fevereiro de 1974

Bimba nasceu no dia 23 de novembro de 1900, na Freguesia de Brotas,

Engenho Velho, em Salvador, Bahia.

Filho de dona Maria Martinha do Bonfim com Luiz Cândido Machado, campeão de batuque: "luta braba, com quedas, com a qual o sujeito jogava o outro no chão".O apelido Bimba originou-se de uma aposta entre a sua mãe e sua parteira que dizia que dona Maria iria ter um menino, e Bimba na Bahia é um nome popular do órgão sexual masculino.Sua iniciação à Capoeira ocorreu quando tinha apenas 12 anos de idade, na "Estrada das Boiadas", hoje Bairro da Liberdade, em Salvador, tendo como Mestre o africano Bentinho, então capitão da CIA de Navegação Baiana. Seu curso teve duração de quatro anos, e o método era Capoeira de Angola. Fim do estágio, Mestre Bimba ensinou a mesma modalidade, durante dez anos. Começou a ensinar Capoeira em 1918, no Engenho Velho de Brotas. O nome da academia era "CLUBE UNIÃO EM APUROS". Em 1932 abriu sua academia(Centro Cultural Físico Regional Baiano), no Engenho de Brotas, em Salvador a primeira (oficialmente) na história da Capoeira, e, em nove de julho de 1937, recebeu do técnico do Ensino Secundário Profissional, o título de registro "que lhe requereu o Sr. Manoel dos Reis Machado, diretor do Curso de Educação Física. Em 1942 fundou sua segunda academia no Terreiro de Jesus, rua das Laranjeiras, hoje rua Francisco Muniz Barreto. Mestre Bimba foi carvoeiro, doqueiro, trapicheiro, carpinteiro, mas principalmente, capoeirista. Traído por falsas promessas do governo, falta de apoio e dificuldades financeiras, Mestre Bimba morreu em 15 de fevereiro de 1974, no Hospital das Clínicas de Goiânia, vítima de derrame cerebral